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Ciência com consciência!



Mitos da Ciência e Fragmentação da Saúde

Por Laís Madalena

Frequentemente, no ambiente acadêmico, sinto-me pressionada a responder de maneira clássica, objetiva e soberana que o saber científico é a verdade absoluta comprovada pela ciência e única evidência válida para compor o conhecimento, e que o saber não-científico é aquilo que não tem comprovação em significância numérica para a construção de um conhecimento válido.
Antes de responder de maneira clássica e objetiva a questões sobre o que é científico e não-científico, acho importante e indispensável refletirmos sobre a epistemologia da ciência.
Existem muitas linhas de pensamento sobre o que é científico e não científico. Isso depende de muitos fatores, como o cultural e histórico.
Basicamente os pensadores dividem o pensamento em ocidental e oriental. Aqui no Ocidente a Ciência nasceu da fragmentação dos saberes e da separação entre espírito e matéria, o que resultou em uma aversão e descrença da ciência por tudo o que se inclui no senso comum (tudo aquilo que para a ciência é mito ou não foi comprovado por estudos científicos, como as religiões, crenças, sabedoria popular, mitologia, entre outros).
Por longos séculos aqui no Ocidente chamou-se de científico aquilo que é estudado metodicamente e provado quantitativamente, avaliado como "verdadeiro" através de evidências numéricas significantes. Por longos séculos a ciência “dissecou cadáveres sem alma” e baseou a ciência da saúde nas evidências das partes, dos números, do superficial e do material concreto e visível.
Só a partir das descobertas eletromagnéticas de Albert Einstein, em que ele constatou com espanto que energia e massa são duas manifestações da mesma coisa e não coisas diferentes como afirmava a ciência clássica, começaram os questionamentos ao saber absoluto e imutável da ciência. Oras, se energia e massa são manifestações de uma só coisa, corpo e alma também são uma só coisa (o que a ciência abortou por completo na área da saúde)! Desde Einstein, cada vez mais a ciência vem sendo desmistificada como um saber absoluto, único e verdadeiro, provando que nem mesmo ela pode dizer o que é a verdade e a realidade absoluta.
Tanto a ciência quanto o senso-comum estão passíveis de erro, carregadas de misticismos e percepções pessoais acerca da realidade. Ambos têm suas contribuições para a formação do conhecimento. O que jamais pode acontecer é soberania de um sobre o outo. Nenhum conhecimento pode ser pormenorizado. É preciso mais humildade ao se fazer ciência.
De fato a Ciência trouxe grande progresso para a humanidade em termos tecnológicos, mas provocou um regresso para as questões humanas, principalmente na área da saúde: o corpo passou a ser estudado de maneira completamente fragmentada, mecânica e destituído de “alma”, de individualidades e subjetividades. Eis a grande crise da saúde e da condição humana!
Por isso temos que tomar muito cuidado ao fazer ciência em saúde, abstendo-nos da soberania do poder da verdade conferida à Ciência dos números e dos objetos, de maneira que ela não mais aborte a alma, as individualidades e subjetividades humanas, bem como também a sabedoria popular e as crenças.

Algumas referências

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CAPRA, F. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1983.

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HEIDGGER, M. Ser e tempo I. Petrópolis: Vozes, 1995.

HELLMANN, F.; WEDEKIN, L.M.; DELLAGIUSTINA, Marilene. Naturologia Aplicada: reflexões sobre saúde integral. Tubarão: Editora Unisul, 2008.

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SOUZA, L. Pluralidade de Saberes e Intersubjetividade: Estudo da prática naturológica. 2012. 120 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel) - Curso de Naturologia, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2012. CD-ROM.

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